sábado, 2 de fevereiro de 2013

AnalfaGay

Uma pessoa perspicaz chamou-me Analfagay num bar de camionistas muito feias, antes frequentado pela Madonna em NYC. Eu adoro NYC e a Madonna e nunca tinha ido antes a um bar gay na minha segunda ou primeira cidade do mundo; não sei. Menos ainda ao bar em questão que era em downtown, tudo por causa de ti e que foi uma experiência chata, porque me senti mal, para não dizer fodida porque não entendi nada da linguagem, nem para que servia a jaula gira que lá estava.
Uma outra pessoa, quando eu trabalhava num jornal em Lisboa, há muitos anos atrás e a quem eu pedia para me corrigir os textos, ou não, não, não; estando eu a escrever sobre o Woody Allen chamou-me a atenção sobre como, em português, se escrevia Nova Iorque, porque era sem o Y em York e eu tinha escrito Nova York com o Y em vez do I.
Irritou-me aquilo porque achei uma embirrância - era uma mulher e estava puta da vida porque eu escrevia melhor que ela - mas nunca esqueci. Afinal era a minha primeira ou segunda cidade da vida o que só fez piorar ou melhorar a cena. Não sei como aguentei a correcção porque a odiava. Era insegura e ela entrava no Frágil e eu não, talvez.
Como não consigo esquecer e escrever e são 6.25 da manhã que um senhor de laço e camisa engomada, lia os meus textos, em pé atrás de mim, enquanto eu os escrevia e portanto ainda os está a ler enquanto eu escrevo agora, (na minha cabeça) me ensinou que os advérbios de tempo ou modo, sei lá -  adorei sempre todas as minhas profs de português - não levavam acento.
Ele não disse, Mónica olhe que... Ele disse, Ó miúda ninguém te ensinou que, temporariamente, não leva acento? Então temos que ir tomar um café ali ao lado porque o caralho e não sei quê mais e assim. És mais uma das que não sabe puta merda e vais acabar a escrever para a Impala. Eu já estava a escrever para a Impala, mas nunca tinha privado com este senhor e este senhor usava as camisas mais bem engomadas que eu alguma vez vira, apesar de ser comunista convicto.
Uma gay é uma coisa, um comunista é outra coisa e uma ressabiada outra. E as experiências traumaticamente - leva acento? - boas, uma pessoa não esquece. Os três aparecem-me, às vezes, em pesadelos. Daqueles em que achamos que afinal nunca acabámos o curso. Ou depois acordamos e acabámos, mesmo analfagays e analfabetas e ressabiadas. Mas se tomarmos as pirulas certas acontecem sonhos bons porque acordamos sendo tudo errado, no momento em que queríamos ser tudo certo e para mais virgulando mal,  até nos sonhos. Coisa que nunca ninguém notou me aparecer o meu editor que não queria nada, nem sabia nada mas que agora anda preocupado porque não produzo nada e que ando a ler coisas como: "Tips on identifiyng symbols in your dreams" e Delusions of Gender, how society and neurosexism create difference".
Tenho-o a ele e tenho-te a ti and that´s why i don´t do midtown e um rabinho virado para a lua.

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

TV Rural

A Fossa é um lugar amarelo onde se pode estar às vezes na vida. Quando se está na fossa o mundo não serve para nada. Isto é, os pintaínhos deixam de ser queridos, o queijo de Serpa não passa de um queijo Gouda qualquer, as árvores fazem-nos mal e os discos da Maria Bethânia do princípio dos anos 80 voltam ao gira discos - comprei um gira discos para poder ir bem fundo na minha fossa e pendurei o "Pedaços, da Simone, na parede do escritório.
A Fossa é um lugar redondo de onde não se sai sozinho, mas também não se quer estar acompanhado. Na fossa nunca se sabe bem o que se quer, fora da fossa também não, mas dói menos.
Quando se está na Fossa não há nada pior do que ouvir, mas vá, sai lá da cama, vamos almoçar às Azenhas, ou anda comprar um Iphone 5 que eu ofereço. Quando se está na fossa quer-se dormir, ter sonhos absurdos, ficar dias seguidos sem tomar banho e tomar pírulas como se não houvesse amanhã. Porque não há amanhã, nem depois, nem depois, nem depois de depois.
Ontem, estando eu na fossa e com a televisão ligada só para distrair, ouvi aquilo dos deputados do PSD e do CDS estarem a querer a volta do TV Rural à televisão e depois isso fez-me rir. Um bocadinho, porque quando comecei a achar que iria rir muito lembrei-me logo da minha fossa e de que o mundo não faz sentido e de que aquele verme de deputado ali no ecrã da TV devia era ser sodomizado à bruta. Quando se está na fossa, além do mundo ser amarelo, as pessoas ficam más, más, más para quem as faz rir. Nem que seja um bocadinho só.