quarta-feira, 21 de agosto de 2013

O Brasil visto daqui e das músicas todas que aparecem

é tão lindo. Dá tanta saudade. Até a Avenida Princesa Isabel. Até as ruas mais claustrofóbicas de Copacabana onde eu ia ao dentista toda irritada porque tinha que ir ao dentista. O dentista com vista feia para os prédios decadentes e lindos de Copa, morros tão feios.
É uma maravilha esta imagem que posso ter, depois de todos os anos-novos, da Judite de Sousa a julgar a nossa vida, do stress das roupas brancas para todos, das roupas brancas, (nós não precisávamos disso e sim, em homenagem a Ela), dos táxis que deixavam de existir nesse dia para voltarmos ao Leblon, onde era a nossa casa e onde é lindo viver.
Dava oito meses para estar aí já amanhã, para me transladar, para ver as putas chiques convidadas pelos bofes de meias e sandálias para o Porcão de Ipanema e sabia rir disso e adorar mesmo assim tudo e tudo mesmo ao mesmo tempo que nos odiava e à nossa felicidade carnificenta e não podia mais com o Rio e todos os amigos riam de mim e da minha futilidade tediento-internetica.
O Brasil, visto daqui, tão longe e das músicas todas que me aparecem a toda a hora, é foda. Uma foda tão grande e tão sozinha e tão minha, que não sei como não matei ninguém que não estava ali quando ouvi o  Djavan, a Cássia Eller, a Ana Carolina, o Caetano, a Gal na praia e o cabrão do Gil de unhas pornográficas e mulher linda, sei lá onde. A Marisa Monte e a Mart´nália no CCC a cantar à minha frente e à frente do Gabinete Português de Leitura iluminado à noite com pobrezinhos a dormir nas escadas que ficam amarelas da iluminação. E foi tão perfeito.
Quanto ao Francisco Buarque de Hollanda. Uma vez, sim, de bicicleta e outra a pé à porta de casa, mas uma pessoa fica baralhada e não tenho a certeza. Mas foi o meu irmão Miguel que gritou pelo velhote mais lindo de nós todas. Eu cá sou Carioca e por isso nunca vi a Maria Bethânia.


quarta-feira, 7 de agosto de 2013

Your love will be Safe with me

Não oiço vento em Cascais. Não me oiço a mim nem a vocês. Tivemos um dia bestial, houve sol e vocês estavam felizes, da forma que nos é possível estarmos felizes. Voltam amanhã à vossa vida e a vossa vida é sem mim ao pé. E crescem e respiram sem mim e fazem amigos sem mim e não conheço os vossos amigos que espero vos cuidem como os meus me cuidaram. Não corre o vento de cascais para me ajudar a dormir até amanhã. Estou triste e vocês aguentam a minha tristeza com o vosso riso e a vossa maneira de me mostrar que estou em vocês todos os dias que não estou porque escolhi não estar e vocês lá entendem isso dentro de vocês da maneira que arranjaram para me desculpar a minha escolha. Lembro-me de nós no Rio, lembro-me de tudo e sei que pelos vossos risos que recordo todos os dias que acordo que são felizes lá. Ipanema faz qualquer um feliz. Ipanema fez-nos fortes e mostra-vos todos os dias o caminho. A mim também. You´re love will be safe with me.
A nossa vida é feita de escolhas que doem, escolhas que fazem rir. A nossa vida tem sido passada em aeroportos. Espero por vocês aqui, vocês esperam por mim lá. Enquanto isso falamos por códigos, por coisas não ditas, por cada coisa que escolhemos viver e ser, por tudo o que acreditamos uns nos outros. Os três. Prometo ser sempre mais forte que vocês. Temos o amor, a saudade, as estrelas em Montemor, as nossas falhas, as nossas fotografias nos quartos uns dos outros. Adoro as gaivotas de Cascais, adoro os caixotes do Rio, as vossas adições à internet a vossa capacidade de se despedirem de mim nos aeroportos. You´re love wil be safe with me. É uma música triste quase como o teu Wish you where here, Tomster. Até já. Portem-se bem.

segunda-feira, 5 de agosto de 2013

O maravilhoso poder de ser Garçonete

Em Julho a Samantha, minha gerente no Bar Moinho, pegou literalmente em mim e levou-me ao cabeleireiro e à pedicure. Marcou-me hora, ficou comigo o tempo todo enquanto o Gil e a Marina (não se chama Marina, mas não revelo a sua identidade porque a Marina Eusébio, poderia cair na tentação de contar o estado em que encontrou os meus pezinhos) trataram de me pôr decente e a Samantha preocupada com a minha mente ainda me levou a comer caracóis às dez da noite e a beber jolas. As pessoas ainda sentem simpatia por mim, sendo que o trabalho dos dois abnegados (cabelo, mãos e pés) durou duas horas e a fictícia Marina ainda disse que eu só lá ia se começasse a dormir com os pés barrados em azeite e dentro de meiinhas. Ainda não fiz por amor ao próximo. Mas fiquei tentada.
Tinha começado a trabalhar "de garçonete" em Maio e ainda não tinha encontrado tempo para pensar ou dormir. Coisas que mais gosto na vida. Não estava nada rotinada com a jorna de uma empregada de mesa. Apesar disso já era muito mais feliz do que fui durante anos da minha vida para pesar e alegria dos que me olhavam e me viam desfeita, defeituosa dos pés à ponta da minha incrível juba ruiventa, (e isto é o máximo a que chegarei sobre o meu estado físico após o princípio da vida trabalhadeira. Não sou nem serei uma pessoa que goste de escrever sobre o medonho físico. Já o intelectual interessa-me e então e então).
E então é sobre o intelectual que quero contar, não o medonho poder intelectual dos intelectuais que adoro, mas sobre o maravilhoso-medonho poder intelectual dos serventes em, ouvir, de observar, de relativizar, sobre o poder intelectual que se tem que ter para decorar pedidos esquisitos, de saber que existem cafés sem princípio, cafés cheios mas não muito cheios, italianas, garotos de café e de limão, saladas de atum, sem atum, hot dogs sem salsichas, sem mostarda (que horror), galões em dias de fritar ovos no asfalto a acompanhar gaspachos, merdas assim. E as pessoas das pedras de gelo no café, também.
Consegui trabalhar porque pessoas queridas acreditaram em mim e no meu medo de as foder se alguém pedir o livro de reclamações, apesar de saberem como eu sou e como posso ser mais estúpida que o estúpido dos meus clientes. Consegui trabalhar, foder os meus pezinhos de jornalista, burguesinha, armada em boa, pateta, what the fuck, porque preciso e porque as pessoas que acreditaram em mim assim decidiram. Chorei no dia em que recebi a minha primeira caixinha. Ganho o mesmo que ganhava a escrever duas crónicas para os jornais em 30 dias. Entro às 11AM e saio às 19PM. Os meus pés nunca mais foram os mesmos, aprendi a ouvir (mal) as ordens, os conselhos, as regras, os clientes babacas, as famílias sem um tuste, as esquisitices dos outros.
Sei quando uma mesa vai gostar do meu serviço e não vai antes de chegar ao pé das pessoas. Sou esquisita com os feios e maravilhosa com os giros,mas isso... Sempre fui. É um problema.
Caindo na tentação do meu adjectivo preferido:  A vida é maravilhosa, eu estou bem e os meus filhos também.

sábado, 3 de agosto de 2013

Toca a perder gente

Apetecer-me escrever não chega. Também me apetecem coisas menores que isso. Um apetecimento já não dá. Já não serve como serviu, e no entanto oiço muitas vezes; vai lá e escreve. Mas vou onde, caralhete?,  com a vida aqui tão perto, com pessoas que posso usar em carne viva e outras menos esquisitas, também, que a vida não é um romance, é muito melhor que um romance, não quero escrever sobre invenções maradas e dar nomes muito diferentes às peculiariedades de cada um que a mim me fazem gozar e são tão interessantes.
Tal como não consigo cozinhar sem picante quando sei que te irrita o picante e bastava tirar um bocadinho da massa para o lado. Reservar o que te cabe.
Isto é uma incapacidade, ou é querer muito a vida como ela é e abster-me do resto e do mal que as palavras fazem e das popozudas e dos pássaros e dos bancáriosmais ou menos bem vestidos.
A minha vida é feita de personagens que têm absolutamente que ir parar aos livros que vou escrever e vão além disto. E isto será uma espécie de amor brutal, embora os envolvidos nunca assim achem.

sexta-feira, 2 de agosto de 2013

As boas pessoas sempre se encontram ou um pós feminismo do feminismo.

As boas pessoas sempre se encontram.
Depois dos trinta e cinco somos absolutos, tão absolutos que não queremos mais nada a não ser o umbigo do nosso amor. O umbigo do nosso amor - que já tem o nosso no coração todo lá dentro - é igual ao nosso e portanto muito bom e intolerante, criado em Buenos Aires.
E então gostamos dele e de mais nenhum e o meu pai é polícia e eu tenho um tubarão escondido no armário da cozinha.
A vida surpreende-nos e muda e casamos muito e descasamos e vamos com primos, irmãs, tias, amigos e namorados daqueles que vimos uma vez no Jardim do Campo Grande.
Mas as boas pessoas sempre se encontram. E ultrapassam umbigos à catanada a virarmo-nos uns aos outros para todos os lados.
Isto porque preciso contar que algumas poucas vezes 5,6,7, vezes a minha cabeça conseguiu fazer uma coisa estilingue em punho com as pessoas que já cá cantam. Tudo a seguir aos meus 35. E então o tarado do meu coração é para aqui chamado, e o meu umbigo também embora muito mais caladinho. Estaremos portanto a filosofar e a falar de um Umbiguismo um bocado mais sexy?