domingo, 2 de dezembro de 2012

Coração Ateu




A noite a chegar não teria nada a ver com o que eu gostei de ver a Gabriela outra vez. Nem deveria ser a dona da minha verve sobre este assunto do meu coração. Ou tem, ou devia, porque esta altura do lusco-fusco sempre foi a melhor hora do dia para mim. É a altura em que gosto muito das outras pessoas e elas me parecem sempre mais bonitas e é também a altura em que gosto mais de mim e dos passarinhos porque ambos ficamos mais ouvintes do que irritantes cançonetistas umbiguistas -  de manhã também sou isso, mas em má, porque cada vez mais acordo chata e desenrugar da almofada nesta idade começa a ser deprimente . Não interessa. É outro tipo de umbiguismo, mesmo.
Vi o último episódio ontem e não perdi nenhum dos episódios, os últimos vi no computador, num site qualquer em que se pode fazer isso e onde eu nunca teria chegado sozinha, porque nestas coisas começo também a  desenvolver exasperações ao lidar com os comandos da TV. Uma característica que sempre liguei ao envelhecimento da espécie e que nunca me apeteceu contrariar, como me apeteceu contrariar as estrias que os meus filhos deixaram na minha barriga quando nasceram. Estão cá, são lindos e levam com uma umbiguista, ruiva e vaidosa, que também queria por uma força pô-los a ler a Gabriela. Mas hoje tenho uma barriga que não condiz com os meus quarenta e dois anos e sabe-me bem e a eles os deixa menos envergonhados quando ainda querem ir comigo à praia e eu teimo em jogar altinha. Por outro lado os entes qureridos existem para nos porém as geringonças a funcionar e gosto de pensar que também encontrarão algum charme na minha burrice.

Avancemos mais depressa agora, porque acho que me perdi em devaneios só porque não consegui dizer simplesmente que a Gabriela continuou a ser a novela da minha vida cada vez que o José Wilker disse à Dona Sinhazinha, "Deite que eu hoje vou-lhe usar" e os dois faziam aquilo daquela maneira. Senti tudoi. Tudo o que ele sentia e o que ela sentia. Como me doiam os pés cada vez que Seu Nacib queria que Gabriela fosse uma socialite da altura. Estes são só exemplos.
O maior prazer foi ver que todos aqueles actores jogaram o tempo todo com amor à camisola e foram exemplares na forma como me voltaram a mostrar o Brasil da minha infância e a devolver aquela mulher inexistente que só podia mesmo ser brasileira. O Álvaro Cunhal haveria de ter gostado de ver outra vez.
Sobre a música toda nem consigo falar, mas a Maria Bethânia a cantar Meu Coração Ateu continua a dar-me borboletas na barriga. Fui teúda e manteúda de todos os coronéis, do dentista, do professor, do Chico Moleza, de Miss Pirangé, da Ivete Sangalo e principalmente de Dona Dorotéia. Antes de fugir  com a Malvina deitei com Ramiro Bastos e tirei mais depressa do que o Dr. Mundinho a Gerusa do convento.



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