A Fossa é um lugar amarelo onde se pode estar às vezes na vida. Quando se está na fossa o mundo não serve para nada. Isto é, os pintaínhos deixam de ser queridos, o queijo de Serpa não passa de um queijo Gouda qualquer, as árvores fazem-nos mal e os discos da Maria Bethânia do princípio dos anos 80 voltam ao gira discos - comprei um gira discos para poder ir bem fundo na minha fossa e pendurei o "Pedaços, da Simone, na parede do escritório.
A Fossa é um lugar redondo de onde não se sai sozinho, mas também não se quer estar acompanhado. Na fossa nunca se sabe bem o que se quer, fora da fossa também não, mas dói menos.
Quando se está na Fossa não há nada pior do que ouvir, mas vá, sai lá da cama, vamos almoçar às Azenhas, ou anda comprar um Iphone 5 que eu ofereço. Quando se está na fossa quer-se dormir, ter sonhos absurdos, ficar dias seguidos sem tomar banho e tomar pírulas como se não houvesse amanhã. Porque não há amanhã, nem depois, nem depois, nem depois de depois.
Ontem, estando eu na fossa e com a televisão ligada só para distrair, ouvi aquilo dos deputados do PSD e do CDS estarem a querer a volta do TV Rural à televisão e depois isso fez-me rir. Um bocadinho, porque quando comecei a achar que iria rir muito lembrei-me logo da minha fossa e de que o mundo não faz sentido e de que aquele verme de deputado ali no ecrã da TV devia era ser sodomizado à bruta. Quando se está na fossa, além do mundo ser amarelo, as pessoas ficam más, más, más para quem as faz rir. Nem que seja um bocadinho só.
Ninguém consegue manter-se na fossa depois de ler isto. Hilariante.
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