domingo, 23 de dezembro de 2012

A Família Nociva

A nossa família é um grupo de pessoas que todas juntas têm uma força sobre nós maior que Deus, ou uma música qualquer que nos faça mal ou bem. Mas a nossa família pode ser uma "Muralha de Aço" no ar para que o mundo não desabe sobre a nossa cabeça. Acaso tenham todos, todos, no mínimo quatro anos de terapia freudiana em cima. Ou não tenham tido dinheiro, vocação ou paciência para isso, mas tenham tido a sorte de cair no caldeirão do Asterix e nunca mais se tenham esquecido disso e portanto sejam sempre mais benevolentes uns com os outros e connosco do que o maluco do Gordon Ramsey.
Isso "a gente"vê quando está de fora, quando é aquele dia chuvoso no meio do ano que não tem nada a ver com o Natal ou o Ano Novo, ou outros dias festivos. Porque no Natal vêm os nervos, a loucura generalizada, os cabeleireiros, os doces, a consoada, a Missa do Galo, as meias que recebemos da tia rica quando somos putos, os presentes reciclados, a over convivência porque ainda há o dia 25 todo, para os que adoram cabrito e ver como vão os desavindos que não puderam estar na Ceia de 24.
O Natal é bom até aos 12 anos. Depois é mau. Depois aguenta-se bem, quando se cresce e se tem filhos pequeninos e queremos que eles amem o Natal em nosso nome porque nós já nos esquecemos como é, mas pronto. Logo, logo, volta a ser aquele momento em que temos medo. Muito medo do encontro Laranja Mecânica, Blow Up, que ali vem disfarçado no Bacalhau com Todos.
Eu ao quarto copo de vinho, torno-me sociável, uma coisa tecnico-táctica como aulas de Artes no Iade que se usam por toda a vida em certas alturas e uso e gosto. Até do robe que a querida coisa familiar me oferece à meia noite. E também já dei meias.

sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

O Professor Freud e o meu Zieger.

Hoje fui ao Jardim Botânico - aquele das Palmeiras centenárias que o rei português de quem gosto muito e é super mal falado nos compêndios de historia brasileiros e entre os emergentes da Barra, mandou plantar - sei lá porquê.
Aquilo só é frequentado por crianças sem pais PILFs ou mães MILFs availables.  Só tem  Bábás e bicicletas com rodinhas e plantas lindas e também azáleas. Gostei.

Um filho  duns amigos meus, perguntou à mãe antes de lançar as pequenas hormonas (13 anos?) sobre uma tigela de Chocapic,  se eu ia adoptar um asiático.
Como hoje choveu e não tinha mais nada que fazer no Jardim do Rei e estou farta da Travessa -  para não falar da minha room mate -, debrucei-me sobre esse assunto em frente à prateleira dos Sakés Nacionais, no Zona Sul da Visconde Pirajá.
Tive o meu segundo insight na vida. Fui.
Fui buscá-lo ao aeroporto da Portela vindo de Zurich, de um colégio interno onde há dezoito acho que também esteve a Geraldine Chaplin e ele foi abandonado.
Lindo, apesar de asiático e baixo, educadíssimo,  boas maneiras e  cheio de cartas de recomendação  super cafonas de uns americanos da SHELL que aguentaram o Itanhangá por seis meses e por isso agora tinham sido pomovidos para um lugar na  SHELL Suiça, porque o Brasil está a dar no mundo. As cartas eram para a para profissão de mordomo, massagista e cozinheiro tudo, tudo, com treino na Sudbrack, portanto pintainhos em ovinhos retirados do ninho antes das mães acordarem. Vinha para mim e para ficar a trabalhar num apartamento no Chiado. É óbvio que não trabalhou nem um dia no Chiado, não fosse eu a mãe dele. E porque o Chiado agora são só barbeiros modernos.
Adoro-o,  filho até hoje, cozinha coisas cada vez mais banais da forma mais decadente, e é querido por todos os meus amigos, que não perdem um almoço de Joaquinzinhos Fritos com Mousse de Melão e Fios de Ovos acompanhado de um Teobar Branco, colheita 78, frapeado durante horas e servido no caramanchão lá de casa.
 Não saiu nada à mãe e o Zieger diz que eu queria.


Para a minha filha Francisca


THE LAUGHING HEART

“your life is your life
don’t let it be clubbed into dank submission.
be on the watch.
there are ways out.
there is a light somewhere.
it may not be much light but
it beats the darkness.
be on the watch.
the gods will offer you chances.
know them.
take them.
you can’t beat death but
you can beat death in life, sometimes.
and the more often you learn to do it,
the more light there will be.
your life is your life.
know it while you have it.
you are marvelous
the gods wait to delight
in you.”
in The Laughing Heart, Charles Bukowski

sábado, 8 de dezembro de 2012

A gira preguiçosa

Podia dizer-te que tenho um ritmo de escritora, que só gosto muito de vinho, pessoas, livros, discos, supermercados cheios de velhinhas, comida, a partir das seis e meia da tarde mais ou menos. E que tu terás que viver com isso e com a minha preguiça matinal. Ou posso explicar-te que talvez eu seja um morcego, olha lá os meus dentes que achas tão giros quando estás de bem comigo, quando relevas o facto de eu me ter habituado a dizer que sou uma escritora porque isso me convém e nos convém a alinhar os tempos do nosso amor porque nos conhecemos mais tarde do que as pessoas que se perdoam, pequenas implicâncias, tempos usados de maneiras diferentes, se costumam conhecer. Mas ajuda-me, não me digas que te vais embora porque não aguentas mais o meu amor ao sono, quando o dia está lindo em Ipanema e eu te deixo sair para a rua sem mim. Sai sem mim. Vai sem mim. Deixa-me eu acordar sem saber onde estás, ou onde estão as pessoas que eu sei que me desculpam as minhas arritmias do coração. As melhores amorosas hão-de ser preguiçosas corporais.

quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

terça-feira, 4 de dezembro de 2012

Sessão Pipoca

Hoje a escrita é curta, mas útil. Para os que gostam de truques e partir coisas em discuções e tem a ver com o corpo e a mente rebuscada de seres normalmente atraídos pela da mulher do Hank Moody quando ela está a cortar courgettes californianas naquela cozinha estilosa: A maior sorte do mundo é ser o irmão mais novo de uma irmã com temperamento. Ela saberá sempre que Pinot Noir - Um qualquer, um qualquer - será o vinho para acompanhar as courgettes.

Monte dos Vendavais

Título de capa da Veja Rio desta semana foi, Os Cariocas do Ano. Na capa apareceram eles bem apessoados com as suas gravatas obscenas de tão acetinadas ou lá o que é aquilo.
De mulheres, como estavam todas de encarnado, só a actriz Drica Moraes foi considerada por nós nos trinquis,  mesmo não sendo tão mediática como Ingrid Bettencourt, nós levámos isso em conta, nem tendo estado cativa como ela, lá no Afeganistão, ou lá onde ela esteve. Aquele lugar que agora se tornou um destino trendy, na companhia de um capacete azul. Ou mais sofisticado, na companhia da família Sousa Tavares. Toda. Dos avós aos netos.
O que nos teria escangalhado de tão bom seria ter visto na capa da Vejinha, Dom Joãozinho, herdeiro do trono brasileiro. Tão cool e tão monarquicamente incorrecto como o Arquitecto Gonçalo Ribeiro Telles gostaria que D. Duarte fosse.
No Braseiro da Gávea, caipirinha na mão e mais nada, seria imbatível ao lado de qualquer Joaquim Monteiro de Carvalho, giro, alto e inteligente, que já foi um mauricinho capaz de encostar meninas lindas e a mulher de branco às paredes do Palace. Esta última só por ele ser o neto do chiquérrimo "Baby".
Mas não,  D Joãozinho não apareceu. Deve ter recusado o convite em proveito daquela sua feijoada completa em Paraty, onde ele só mostra as suas fotos e telas aos que entram de havaiana no pé.
Imagina D. Duarte na capa da Monocle de havaianas: seria o nosso predator rústico, ou um excêntrico pelo menos, daqueles formado pela USP, ao lado de Fernando Henrique Cardoso que lhe poderia ter contado da vida sórdida de seu Zé Dirceu, quando era mulher.

Queria uma Monocle onde estivesse com ele, em vez de D. Isabel, a  Geninha Mello Castro e seu sotaque fodão de quem conhece Caetano de outros carnavais. Acabadinha de aterrizar em Lisboa para o seu novo vinil  com letras da Mafalda Veiga e música do Jorge Peixinho. E a ideia tinha sido bolada por ele.
Com um reino rectangulo e sempre mal vestido, com sapatos confortáveis, e um ar saudável de quem vive em Sintra, naqueles ares e ventos e mares de Camões de onde ele só tira versos errados e conversas esquisitas, coisa que ninguém ainda  identificou vão anos de chalaça nos Três Pastorinhos, Copos de Três, Trumps, Ad- Lib, Incógnito, Plateau e não sei se no Boom, este ano.  
D. Duarte e a os Infantes só podem existir porque uma ama cega tricotava as camisas de vénus de sua majestade. Tanta loirice e infante, só cá estão e montam tanto a cavalo e jogam tanto ténis e aprendem mandarim e boas maneiras,  por causa da dita  não ter visto que umas vezes deixava cair malhas e outras acabava-se a lã.

É muito importante que a nossa família real despeça o alfaiate e a costureira, venda a prataria e volte para o  Brasil, onde Dona Isabel descobrirá que afinal tem buceta, D. Duarte quererá ser sexy e andar de sungão e sairá na Monocle.
D. Joãozinho tratará de lhes lavar a aura, de os tornar interessantes apreciadores de Sushi e de cachaça e de organizar brechôs elegantes de roupa horrível.
Em Portugal manifestações e petições para D. Duarte voltar  e voltar ao Benfica e a Sintra e também a deixar-se de paneleirices, como a história do Sungão.
Adeptos do Benfica e do núcleo do Barbas acompanhados pelo senhor que deslarga aquela àguia pífia antes dos jogos, pedem-lhe, desde já, que lhes traga fitas do bonfim para distribuir num jantar de solidariedade (para com as vítimas do Tsunami que arrasou Aveiro, levando com ele todas as fábricas de Lérias da região), jantar esse oferecido pelos Irmãos Cardinalli, donos do circo onde aquela miúda do Mónaco micou o chunga trapezista, que na época ainda só servia canapés e acepipes moles.

A culpa é dos patrulheiros do Parque de Albarquel onde está instalado o Sistema de Alerta de Tsunamis, SAT,  considerado por muitos críticos o único objeto de design no distrito de Setúbal.

(com Monique Tiple, em quatro horas)














domingo, 2 de dezembro de 2012

Coração Ateu




A noite a chegar não teria nada a ver com o que eu gostei de ver a Gabriela outra vez. Nem deveria ser a dona da minha verve sobre este assunto do meu coração. Ou tem, ou devia, porque esta altura do lusco-fusco sempre foi a melhor hora do dia para mim. É a altura em que gosto muito das outras pessoas e elas me parecem sempre mais bonitas e é também a altura em que gosto mais de mim e dos passarinhos porque ambos ficamos mais ouvintes do que irritantes cançonetistas umbiguistas -  de manhã também sou isso, mas em má, porque cada vez mais acordo chata e desenrugar da almofada nesta idade começa a ser deprimente . Não interessa. É outro tipo de umbiguismo, mesmo.
Vi o último episódio ontem e não perdi nenhum dos episódios, os últimos vi no computador, num site qualquer em que se pode fazer isso e onde eu nunca teria chegado sozinha, porque nestas coisas começo também a  desenvolver exasperações ao lidar com os comandos da TV. Uma característica que sempre liguei ao envelhecimento da espécie e que nunca me apeteceu contrariar, como me apeteceu contrariar as estrias que os meus filhos deixaram na minha barriga quando nasceram. Estão cá, são lindos e levam com uma umbiguista, ruiva e vaidosa, que também queria por uma força pô-los a ler a Gabriela. Mas hoje tenho uma barriga que não condiz com os meus quarenta e dois anos e sabe-me bem e a eles os deixa menos envergonhados quando ainda querem ir comigo à praia e eu teimo em jogar altinha. Por outro lado os entes qureridos existem para nos porém as geringonças a funcionar e gosto de pensar que também encontrarão algum charme na minha burrice.

Avancemos mais depressa agora, porque acho que me perdi em devaneios só porque não consegui dizer simplesmente que a Gabriela continuou a ser a novela da minha vida cada vez que o José Wilker disse à Dona Sinhazinha, "Deite que eu hoje vou-lhe usar" e os dois faziam aquilo daquela maneira. Senti tudoi. Tudo o que ele sentia e o que ela sentia. Como me doiam os pés cada vez que Seu Nacib queria que Gabriela fosse uma socialite da altura. Estes são só exemplos.
O maior prazer foi ver que todos aqueles actores jogaram o tempo todo com amor à camisola e foram exemplares na forma como me voltaram a mostrar o Brasil da minha infância e a devolver aquela mulher inexistente que só podia mesmo ser brasileira. O Álvaro Cunhal haveria de ter gostado de ver outra vez.
Sobre a música toda nem consigo falar, mas a Maria Bethânia a cantar Meu Coração Ateu continua a dar-me borboletas na barriga. Fui teúda e manteúda de todos os coronéis, do dentista, do professor, do Chico Moleza, de Miss Pirangé, da Ivete Sangalo e principalmente de Dona Dorotéia. Antes de fugir  com a Malvina deitei com Ramiro Bastos e tirei mais depressa do que o Dr. Mundinho a Gerusa do convento.