sexta-feira, 20 de setembro de 2013

Sabão Azul e Branco


Quando ela está lá em cima não vê alem do umbigo e é uma coisa tão esquisita como quando uma mulher está grávida e quer apertar os atacadores dos sapatos e tem que se sentar, senão não consegue porque não vê os pés.
E uma pessoa só se põe em pensamentos destes muito depois das coisas terem acontecido. Porque quando se está lá em cima não há tempo para nada, apesar de  tudo demorar muito mais tempo a ser feito, apesar de todos os pesares. E portanto falamos de uma mulher que quando esteve grávida suportou aquilo que é estar grávida com mestria e se calhar até de pulinhos em Miss Piggy nos dias menos maus de toda esta loucura que Deus nosso Senhor fez às mulheres: pô-las grávidas, sem subtilezas, sem mamas de jeito ou com excesso de mamas de jeito,  barrigaças atrozes -  quando nenhuma mulher suporta uma barriga, não pode ser -  e as pessoas diziam que sim que é sempre giro e bom estar gravidona e  ela pensava sempre que era não, não, não e perguntava às amigas “olha lá, mas tu gostaste de estar grávida?”. E havia umas que lhe respondiam que sim e que o amor delas as achava sexy e que portanto  ficavam excitadas com a excitação deles e que então por tudo e por nada faziam à canzana com os respectivos maridos em super tubos, com certeza porque na gravidez só se pode beber um copo de vinho ao jantar.

terça-feira, 10 de setembro de 2013

mãe

Ontem almocei com um grupo de pessoas onde houve uma que ficou chocada por eu ter vindo para Portugal e ter deixado os meus filhos no Rio, com o Pai. Os filhos são para estar com as mães. disse. Saí há dois anos do Rio de Janeiro e nunca ninguém me tinha dito isto assim tão directamente. E a mulher não faz sequer ideia do que eu fiz. Seria lá capaz. Bom dia Tom, Bom dia Chiquiti. Mãe.

sábado, 7 de setembro de 2013

O país da "injustiça subjacente" .

Comprei a Lux, toda contente, na bomba de gasolina.
Não tenho guito para comprar a Lux porque também me encontro em "injustiça subjacente" mas caguei.
A Manuela Moura Guedes está com uma cara feliz. Comprei, comprei mesmo,  toda contente: Não aparece esquisita. Nadinha, nada, fodasse, puseram-na bem, os cabrões, merda  até acho que engordou um bocado. Fica-lhe tão bem. Tá tão gira, caralhete, dez a zero! Tanto Supertramp  e Genesis na vida dela tão bom, tão bom, tão bom! Embora usar pontos de exclamação seus padrecos!

E nem tou a ser exagerada. Gosto assim, Gosto assim de quem gosto.
Quando gosto, gosto, e gosto tanto dela! E de a ter e de seguir os meus faróis, os meus meninos, as minhas meninas, a Amy Winehouse, mais fodida que eu e a quem deste muitp mais chances. A louca da Lindsay Lohan, até o Woddy Allen viu que tem as sardas no lugar certo.
E sim, sinto falta do Pedro Ayres Magalhães, claro, que cagou para nós, porque também é um farol e um farol é uma coisa tão linda, mesmo que às vezes sejam maus, ou digam disparates, ou não nos guiem. Mas nada disso ele fez, não desculpo. O Pedro Ayres Magalhães simplesmente calou-se e a mim faz-me falta.
Faróis falam para nós. E faróis não são perfeitos, nem precisam, porque também precisam de faroleiros e faroleiros vestem-se bem, mas são imperfeitos. E o dele eu nem sei, apesar da minha necessidade dele.

Odeio a perfeição do  chatos, dos bancos de comida de quem não adora lojas dos chineses enormes ao pé do fim de Portugal.
A perfeição tipo o casamento do professor Fernando Seara com a Judite de Sousa, não quero aquela merda da câmara de Sintra quando ele quer é a de Lisboa e está tudo estudado pelo faroleiro dele que nunca será tão maravilhosamente imperfeito como o Doutor Mário Soares.

Perfeição é a puta que pariu da fonte no jardim da Lusíada onde ele se fez. Onde eu estudei e tive que lhe dizer que ele não se podia comparar ao Doutor Soares, numa oral de política não sei quê, que nunca me serviu de nada. Somos muito pequeninos no mundo doutor Seara.

(Chegar ao alto dos Dois Irmãos, Carlão, essa é a perfeição. Mas só vc e Carol serão perfeitos nesse momento para mim, porque morro de saudades.)

Até vc Caetano, my master, deveria opinar menos em todo lado e  vc olhos de Chico Buarque escrever menos livros e mais canções e vc  Manuela Moura Guedes ser mais querida com o gasolineiro sem dentes, que sabe muito bem que não tem nem meio neurónio do seu dente.
A Madonna não devia ter feiro aquilo aos dentes, quase morri, mas ok. O Prince não nos fazer gramar duas horas de egotismo puro - apesar da baterista - para ouvirmos só uma música da  nossa vida.
E o meu editor devia tentar disfarçar na TV a falta de paciência com quem nunca foi a casa dele comer a sua tortilha de pimentos e não gosta de comer.
E Eu. Eu, Francisco José Viegas, eu  não devia ter amigos que gostassem de mim e aparecessem sempre que tenho um ataque de pânico. 

É  uma merda, é tudo uma merda, mas nós esticamos cordas porque o mundo é pequenino e pessoas boas têm sorte e podem. Então a Manuela Moura Guedes pode esticar todas. Todas.

Perguntem à pintora Ana Vidigal, se não estico e que me dá o prazer da sua conversa. E faz aqueles quadros, sabia lá eu. Perguntem à Maguie, que me recebe sem perguntar porquê, perguntem ao João Sampaio que aguenta, ao meu lado, todas as minhas bacoradas, ódios de estimação, birras, poesias juvenis começadas por, Quero um beijo que saiba a paz; com a minha mãe a fazer-lhe iscas para o almoço, desde o tempo em que éramos pequeninos e lê aos bocadinhos livros meus que considera mal escritos. Porquê? Porque é assim. 

Sou dada a generalizações, são coisas difíceis de lutar contra. Mas aguento e acho que felizmente aguentamos tudo de quem admiramos.  A  Manuela Moura Guedes aguentou, por isso estou-me nas tintas. Viva!

O que quero dizer é que pessoas especiais podem fazer mal, a Manuela Moura Guedes pode tudo, caralhete, não há ninguém igual, mesmo que se passe, é um momento dela, aguentamos. Estar mal em momentos da vida pode-se  e ela tem até direito de maltratar pessoas sem dentes. Ou preferem a Judite de Sousa, em directo do Algarve?

Tem-me a mim e aos meus de certeza e que a vêm descer lá ao fundo do poço, mas sabemos absolutamente que é brilhante e sem ela somos menos.
Cale-se Caetano Veloso. Separa-se dessa arpia que já cantou e só o fodeu e obrigou a fazer shows no Fasano. Foda-se o Fasano e os novos ricos e os discos maus que fez, com roupa de homem novo e parvalhão.
E Chico Buarque de Hollanda, pare de ir a Budapeste. Budapeste é frio. Budapeste só o fará escrever livros maníacos. Se manca. Você vive no Leblon. Caminhe. Deixe que suas fãs o vejam. Escreva aí. Não vá para Paris. Adriana Calcanhotto, por favor corte essa juba.

Manuela Moura Guedes você é a melhor. Graças a Deus já lhe disse isso. Como estou sempre a dizer que já dei um beijo na boca ao Caetano Veloso. E dei.  Os meus faróis, para vergonha alheia sabem. Digo. Faço. Sento-me ao colo. Só vivo uma vez.
Também o disse à minha tia, que morreu a dizer-me que eu não tinha noção do que era bom beber água gelada por uma palhinha. caralho. A vida pode acabar assim.  Mas também  lhe disse que o Pulido Valente jamais seria o mesmo.

E o seu analista  MMG? N\ao lhe disse que Você fez gerações de jornalistas? Mesmo má, ou boa, sei lá, nunca trabalhei consigo, mas o meu amigo Ganhão, sim  e contou coisas boas e cruéis suas em amor, que eu adorei só  porque ele escolheu Paço de Teixeiró para me falar se si e eu disse, lambes ou não o chão que ela pisa, ao que o menino no Restaurante Caracol retorquiu. Eu não. Mas tu ias lamber e fazer te bem. E isso basta.

Viu a entrevista à "Carminha" no outro dia?  Ou sou louca, ou a jornalista gira só pernas e parvalhona queria era ser amiguinha da Adriana Esteves?  E sabe o que vc me ensinou? Não é a comer os entrevistados que vamos lá.  É  a fodê-los até ao tutano com estilo.
E agora MMG,  aqui comendo uma Rufflles, cheia de estilo, sabe quem eu acho que fazia isso tão bem como a Manuela? O Carlos Cruz. 


segunda-feira, 2 de setembro de 2013

need you. apesar da gorda

Se as coisas tivessem uma explicação inegável era muito mais facíl. Diríamos uns aos outros em conversas banais num Domingo feliz:  Tem que haver um Deus que nos faça isto, que nos tenha posto aqui hoje, que nos tenha posto antes a  ouvir Pink Floyd -, que nos tenha oferecido, mascarado de outra pessoa, está claro, porque era um lugar tão banal como a porta do Centro Comercial Fonte Nova, em Benfica - o livro A Casa dos Espíritos, da Isabel Allende. Ou o Kundera, o perfumoso do Kundera que só é verosímel para miúdas que vão ser esquisitas o resto da vida por sublinharem passagens dos livros do senhor em que entram outras miúdas nuas, de chapéus de côco, a ver coisas, como os próprios pipis reflectidos em espelhos barrocos, em apartamentos, em Praga.

Xixi-Cócó.  Porque aqui sentada, 43 anos nunca tive um ente querido que me tivesse dito - caridosa ou professoralmente, tou por tudo, que seria melhor ir ouvir Delfins, que falavam na Bahia de Cascais e lá era onde ficava aquele bar onde os bons bebiam Bloody Marys por forma a prosseguir, um tipo de jornalismo literário professado por eles e um grupo de pessoas felizes que fingiam que não comiam pipocas e portanto não tinham que fazer nada à Guida Gorda, para entrar no Frágil.
Exemplo pratico. Nos anos oitenta a Guida Gorda era o Demo para os under thirtysomething que ela julgava por terem predilecção por pipocas.  Ela sabia.
Nessa altura tentei entrar umas 16 vezes no Frágil, das quais três foram bem sucedidas porque as pessoa que estavam comigo não comiam pipocas (não comem até hoje)
Era a barreira do Demo e Deus Nosso Senhor toda a década de oitenta,  Privando uma geração de pessoas normais de ENTRAR  no Frágil, de ver os artistas lá dentro, de ver os picolhos, as fufas, os anormais, os anões, os músicos e até alguns poetas mesmo poetas.
 Pior, privando-me do meu amor, das músicas, das bebidas, das casas de banho e do que estava lá dentro tão giro impedindo o acaso de despachar na minha vida.

Foi Ela, mais Deus maldoso que  proibia acasos entre comedores e não comedores de pipocas. Só porque não queria misturar os dois senhores.
E  meu amor tão gira, tão cool, lá dentro, sem mim, sem pipocas, sem o Rio, sem chocolate, sem me poder dizer que Ipanema era o nosso lugar, prepara-te que a tua vida vai ser assim e Mómó, esquece lá  o Kundera e a senhora  que estão no saco enganoso das coisas de Deus quando trabalha sem o Diabo.
E os dois interessar-nos-ão menos que o Miguel Ângeloe os Delfins,  na nossa vida, tenhas tu a idade que tiveres e eu a idade que tiver e  nos apareça ele a ajudar os golfinhos da Margarida Pinto Correia,  ou a comer um gelado no Santini porque nos passou à frente com o cartão habitué, ou a olhar para as maminhas da Rebelo Pinto naquela foto da Caras.
É uma questão de filosofia da proximidade. O Miguel Ângelo está perto, há-de ajudar-nos ou ir ajudar nas nossas zangas com o Nasce Selvagem,  a ficarmos pertinho uma da outra, apesar da Gorda e do que o Kundera e suas malucas checas cheias de frio e ideias suicidas nos fizeram pensar.

Mómó, mulher alguma se vê  assim ao espelho, toda  nua de chapéu de côco, a não a Juliette Binoche ou a Lena Olin a fazerem-se ao Daniel Day Lewi porque a Michelle Pfifer já as encanitava em sonhos invejosos e doentios à procura da perfeição que lhes permitisse entrar no Frágil.

Esquece lá isso tudo e  as tuas mágoas e lembra-te que Deus aparece em dias quentes, numa igreja branca e azulzinha em Santo Amaro da Purificação, na Bahia, onde nasceram o  Caetano Veloso e a Maria Bethânia e nunca foi ao Frágil só a lugares como a  porta do Frágil, para te fazer olhar para as tuas impotências. Tu, mómózona parvalhona, comes pipocas e não escreveste Baby, ou Sampa, ou Eclipse Oculto, nem cantavas, cantas ou cantarás as maleitas daquela senhora como a Bethania lhe canta e nos canta as nossas coisas e nos fode a cabeça e os cotovelos,porque ela sim é Deus e o Diabo. Quantas vezes  foste para casa, mandada por ela, morder pescoços lindos para te esqueceres que a gorda te impedia de ser feliz e eras ainda mais feliz?

Olha, pensa bem que ainda outro dia não foi nenhum Deus supremo barrador de felicidade que te pôs em cima do Sedgway e te fez feliz. Fui eu e o Diabo e os teus filhos juntos que fizemos esforço e morremos de vergonha alheia até te equilibrares em cima do Segway e teres a certeza que os dois caminham juntos e isso é bom. Se os deixares entrar.



quarta-feira, 21 de agosto de 2013

O Brasil visto daqui e das músicas todas que aparecem

é tão lindo. Dá tanta saudade. Até a Avenida Princesa Isabel. Até as ruas mais claustrofóbicas de Copacabana onde eu ia ao dentista toda irritada porque tinha que ir ao dentista. O dentista com vista feia para os prédios decadentes e lindos de Copa, morros tão feios.
É uma maravilha esta imagem que posso ter, depois de todos os anos-novos, da Judite de Sousa a julgar a nossa vida, do stress das roupas brancas para todos, das roupas brancas, (nós não precisávamos disso e sim, em homenagem a Ela), dos táxis que deixavam de existir nesse dia para voltarmos ao Leblon, onde era a nossa casa e onde é lindo viver.
Dava oito meses para estar aí já amanhã, para me transladar, para ver as putas chiques convidadas pelos bofes de meias e sandálias para o Porcão de Ipanema e sabia rir disso e adorar mesmo assim tudo e tudo mesmo ao mesmo tempo que nos odiava e à nossa felicidade carnificenta e não podia mais com o Rio e todos os amigos riam de mim e da minha futilidade tediento-internetica.
O Brasil, visto daqui, tão longe e das músicas todas que me aparecem a toda a hora, é foda. Uma foda tão grande e tão sozinha e tão minha, que não sei como não matei ninguém que não estava ali quando ouvi o  Djavan, a Cássia Eller, a Ana Carolina, o Caetano, a Gal na praia e o cabrão do Gil de unhas pornográficas e mulher linda, sei lá onde. A Marisa Monte e a Mart´nália no CCC a cantar à minha frente e à frente do Gabinete Português de Leitura iluminado à noite com pobrezinhos a dormir nas escadas que ficam amarelas da iluminação. E foi tão perfeito.
Quanto ao Francisco Buarque de Hollanda. Uma vez, sim, de bicicleta e outra a pé à porta de casa, mas uma pessoa fica baralhada e não tenho a certeza. Mas foi o meu irmão Miguel que gritou pelo velhote mais lindo de nós todas. Eu cá sou Carioca e por isso nunca vi a Maria Bethânia.


quarta-feira, 7 de agosto de 2013

Your love will be Safe with me

Não oiço vento em Cascais. Não me oiço a mim nem a vocês. Tivemos um dia bestial, houve sol e vocês estavam felizes, da forma que nos é possível estarmos felizes. Voltam amanhã à vossa vida e a vossa vida é sem mim ao pé. E crescem e respiram sem mim e fazem amigos sem mim e não conheço os vossos amigos que espero vos cuidem como os meus me cuidaram. Não corre o vento de cascais para me ajudar a dormir até amanhã. Estou triste e vocês aguentam a minha tristeza com o vosso riso e a vossa maneira de me mostrar que estou em vocês todos os dias que não estou porque escolhi não estar e vocês lá entendem isso dentro de vocês da maneira que arranjaram para me desculpar a minha escolha. Lembro-me de nós no Rio, lembro-me de tudo e sei que pelos vossos risos que recordo todos os dias que acordo que são felizes lá. Ipanema faz qualquer um feliz. Ipanema fez-nos fortes e mostra-vos todos os dias o caminho. A mim também. You´re love will be safe with me.
A nossa vida é feita de escolhas que doem, escolhas que fazem rir. A nossa vida tem sido passada em aeroportos. Espero por vocês aqui, vocês esperam por mim lá. Enquanto isso falamos por códigos, por coisas não ditas, por cada coisa que escolhemos viver e ser, por tudo o que acreditamos uns nos outros. Os três. Prometo ser sempre mais forte que vocês. Temos o amor, a saudade, as estrelas em Montemor, as nossas falhas, as nossas fotografias nos quartos uns dos outros. Adoro as gaivotas de Cascais, adoro os caixotes do Rio, as vossas adições à internet a vossa capacidade de se despedirem de mim nos aeroportos. You´re love wil be safe with me. É uma música triste quase como o teu Wish you where here, Tomster. Até já. Portem-se bem.

segunda-feira, 5 de agosto de 2013

O maravilhoso poder de ser Garçonete

Em Julho a Samantha, minha gerente no Bar Moinho, pegou literalmente em mim e levou-me ao cabeleireiro e à pedicure. Marcou-me hora, ficou comigo o tempo todo enquanto o Gil e a Marina (não se chama Marina, mas não revelo a sua identidade porque a Marina Eusébio, poderia cair na tentação de contar o estado em que encontrou os meus pezinhos) trataram de me pôr decente e a Samantha preocupada com a minha mente ainda me levou a comer caracóis às dez da noite e a beber jolas. As pessoas ainda sentem simpatia por mim, sendo que o trabalho dos dois abnegados (cabelo, mãos e pés) durou duas horas e a fictícia Marina ainda disse que eu só lá ia se começasse a dormir com os pés barrados em azeite e dentro de meiinhas. Ainda não fiz por amor ao próximo. Mas fiquei tentada.
Tinha começado a trabalhar "de garçonete" em Maio e ainda não tinha encontrado tempo para pensar ou dormir. Coisas que mais gosto na vida. Não estava nada rotinada com a jorna de uma empregada de mesa. Apesar disso já era muito mais feliz do que fui durante anos da minha vida para pesar e alegria dos que me olhavam e me viam desfeita, defeituosa dos pés à ponta da minha incrível juba ruiventa, (e isto é o máximo a que chegarei sobre o meu estado físico após o princípio da vida trabalhadeira. Não sou nem serei uma pessoa que goste de escrever sobre o medonho físico. Já o intelectual interessa-me e então e então).
E então é sobre o intelectual que quero contar, não o medonho poder intelectual dos intelectuais que adoro, mas sobre o maravilhoso-medonho poder intelectual dos serventes em, ouvir, de observar, de relativizar, sobre o poder intelectual que se tem que ter para decorar pedidos esquisitos, de saber que existem cafés sem princípio, cafés cheios mas não muito cheios, italianas, garotos de café e de limão, saladas de atum, sem atum, hot dogs sem salsichas, sem mostarda (que horror), galões em dias de fritar ovos no asfalto a acompanhar gaspachos, merdas assim. E as pessoas das pedras de gelo no café, também.
Consegui trabalhar porque pessoas queridas acreditaram em mim e no meu medo de as foder se alguém pedir o livro de reclamações, apesar de saberem como eu sou e como posso ser mais estúpida que o estúpido dos meus clientes. Consegui trabalhar, foder os meus pezinhos de jornalista, burguesinha, armada em boa, pateta, what the fuck, porque preciso e porque as pessoas que acreditaram em mim assim decidiram. Chorei no dia em que recebi a minha primeira caixinha. Ganho o mesmo que ganhava a escrever duas crónicas para os jornais em 30 dias. Entro às 11AM e saio às 19PM. Os meus pés nunca mais foram os mesmos, aprendi a ouvir (mal) as ordens, os conselhos, as regras, os clientes babacas, as famílias sem um tuste, as esquisitices dos outros.
Sei quando uma mesa vai gostar do meu serviço e não vai antes de chegar ao pé das pessoas. Sou esquisita com os feios e maravilhosa com os giros,mas isso... Sempre fui. É um problema.
Caindo na tentação do meu adjectivo preferido:  A vida é maravilhosa, eu estou bem e os meus filhos também.

sábado, 3 de agosto de 2013

Toca a perder gente

Apetecer-me escrever não chega. Também me apetecem coisas menores que isso. Um apetecimento já não dá. Já não serve como serviu, e no entanto oiço muitas vezes; vai lá e escreve. Mas vou onde, caralhete?,  com a vida aqui tão perto, com pessoas que posso usar em carne viva e outras menos esquisitas, também, que a vida não é um romance, é muito melhor que um romance, não quero escrever sobre invenções maradas e dar nomes muito diferentes às peculiariedades de cada um que a mim me fazem gozar e são tão interessantes.
Tal como não consigo cozinhar sem picante quando sei que te irrita o picante e bastava tirar um bocadinho da massa para o lado. Reservar o que te cabe.
Isto é uma incapacidade, ou é querer muito a vida como ela é e abster-me do resto e do mal que as palavras fazem e das popozudas e dos pássaros e dos bancáriosmais ou menos bem vestidos.
A minha vida é feita de personagens que têm absolutamente que ir parar aos livros que vou escrever e vão além disto. E isto será uma espécie de amor brutal, embora os envolvidos nunca assim achem.

sexta-feira, 2 de agosto de 2013

As boas pessoas sempre se encontram ou um pós feminismo do feminismo.

As boas pessoas sempre se encontram.
Depois dos trinta e cinco somos absolutos, tão absolutos que não queremos mais nada a não ser o umbigo do nosso amor. O umbigo do nosso amor - que já tem o nosso no coração todo lá dentro - é igual ao nosso e portanto muito bom e intolerante, criado em Buenos Aires.
E então gostamos dele e de mais nenhum e o meu pai é polícia e eu tenho um tubarão escondido no armário da cozinha.
A vida surpreende-nos e muda e casamos muito e descasamos e vamos com primos, irmãs, tias, amigos e namorados daqueles que vimos uma vez no Jardim do Campo Grande.
Mas as boas pessoas sempre se encontram. E ultrapassam umbigos à catanada a virarmo-nos uns aos outros para todos os lados.
Isto porque preciso contar que algumas poucas vezes 5,6,7, vezes a minha cabeça conseguiu fazer uma coisa estilingue em punho com as pessoas que já cá cantam. Tudo a seguir aos meus 35. E então o tarado do meu coração é para aqui chamado, e o meu umbigo também embora muito mais caladinho. Estaremos portanto a filosofar e a falar de um Umbiguismo um bocado mais sexy?


sábado, 29 de junho de 2013

O culto da feiosidade

O Nuno Artur Silva tem o valor que tem. Já lhe pedi emprego, já fui a um casting para um programa no Canal Q. Adorava ter um programa no Canal Q, ou até um naquele canal do Correio da Manhã, quem sou eu. Adorava poder ganhar algum dinheiro com aquilo que gosto de fazer, falar, dizer merdices, opinar, generalizar, achar-me o máximo, pouco compreendida, trabalhar no Canal Q. O despeito é uma idiotice e isto até pode ser despeito porque ninguém me quer a escrever para lugar nenhum. Não recebo convites, não têm interesse nenhum em mim, mas o Canal Q devia deixar-se de merdas e empregar, também, pessoas giras e verdadeiras. Há um senhor no Canal Q que faz umas entrevistas num programa intelectualmente pedante, e muito parvo que se acha o máximo a humilhar os tarados que lá vão. O Canal Q podia empregar pessoas que não se vestissem propositadamente na Loja do Chinês e  morassem em Cascais. Nomeadamente a mim, que agora vivo em Cascais e que às vezes até posso parecer pouquíssimo suburbana. O Canal Q parece uma grupeta de vingativos cientes da sua feiura e da sua suburbanidade e da sua intelectualidade especial e do seu humor único e brilhante. O Canal Q é para mim o retrato do país que adora Massamá. Um dia também achei graça ao Canal Q. Agora irrita-me imenso. Deve ser porque estou velhota para as brincadeiras obtusas que por lá passam. Gozar com os que são diferentes de nós e achar que isso é uma coisa "muita gira" não deveria ser interessante. Bom dia, bom fim de semana e viva as pessoas que já andam irritadiças com o Q.

quarta-feira, 8 de maio de 2013

Sempre serei uma perdida

Nunca fui dona da minha vida. Comecei a tentar aos 35 e correu tudo mal. Tenho 42 e continua a correr tudo mal. Uma pessoa toma uma decisão e se for uma pessoa como eu, nunca tem a certeza da certeza dessa decisão. A maioria dos dias que correm tenho saudades de quando a vida corria e não tinha que tomar decisões e aí parecia que a vida me corria melhor. Acontece que quis mudar, certa que era bom ser eu a comandar e que já bastava de acasos e rabinhos virados para a lua. Mas as coisas quando lhes queremos tomar as rédeas custam muito, principalmente quando, como eu, nunca sabemos exactamente o que queremos. Não saber o que se quer da vida aos 20 é fácil e até enternecedor, acontece que não saber o que se quer da vida aos 42 é um bocado chato para os próprios e pode levar à loucura aqueles que ainda nos acompanham nesta coisa esquisita que é a vida. Odeio ter que tomar decisões é por isso que se chegar aos oitenta e depois morrer os meus amigos já sabem que as cinzas terão que ser deitadas ao mar ao largo das Ilhas Cagarras ao som de Dancing Queen. Também serão velhinhos os meus amigos que finalmente irão adorar uma decisão tomada por mim.

domingo, 28 de abril de 2013

Como Van gogh, woody Allen, susan sontag ou uma foto da annie leibovitz, O Flirt.

O flirt é a seguir a dormir a melhor coisa do mundo. Flirtar faz bem a nós e à nossa pessoa amada.  É como ressuscitar, como tomar um banho gelado e depois ir dormir em conchinha para o pé do amor com quem já flirtamos muito. Escolher um bom flirt é uma arte. É saber que ele nao nos vai foder, nem quer, nem nós a ele. Por exemplo, Só se pode flirtar bem com pessoas que adoram as nossas pessoas amadas, senão não nos estamos a portar bem, não senhora.

terça-feira, 16 de abril de 2013

"Mãe, Tem que ter calma no seu coração."

Vai ser um despudor. Vai finalmente ser um despudor. O que aqui vou escrever, sobre o que aqui vou escrever. O meu sexo, o sexo, qualquer sexo não é nada. Mesmo que fosse escrever sobre sexo com anões, com animais, com infantes. Ou mesmo que não fosse sexo e fosse outra coisa qualquer má, que expusesse a mim ou a alguém. Já fiz isso de mentira, tudo mentira. Da minha experiência, que é uma merda, as pessoas gostam de acreditar, ou acreditam mais depressa na mentira ou ficam mais excitadas com a mentira do que com a verdade.
A verdade, aquilo sobre o que nunca fui capaz de escrever foi sobre ser mãe. Foi sobre estar sempre a dizer adeus aos meus filhos. Porque isso eu não sei desrever. Porque isso não se conta. Como não se conta as vezes em que quis ser boa mãe e não pude. Porque fiz uma escolha e choro todos os dias sobre essa escolha, sobre perder, sobre não saber, sobre não os ver todos os dias. Isso é o despudor. Isto é um despudor com que conto para me conseguir pôr em pé todos os dias de manhã. Todops os dias em que não sei como ela vai para a escola, em que não lhe dei dinheiro para o lanche, em que não sei se tem frio ou calor. Porque os meus filhos, que são a melhor coisa que fiz na vida, vivem no Rio e eu vivo em Lisboa. O pior são as coisas pequeninas. São os silêncios que escolhemos ter porque sabemos que faltam 120 dias para voltar a estarmos juntos. E nunca mais estamos juntos. Nem nunca mais podemos chorar na frente uns dos outros sem achar que nos estamos a fazer um mal imenso. Os filhos são para estar com as mães. Todas as coisas que não vou ter oportunidade de lhes dizer. As coisas que já não me conseguem dizer. Os vestidos que não a vi usar, os braços dele e tudo nele que está um homem. 
Quero dormir. Quero não chorar, quero ser adulta e aceitar-me e aceitar a escolha que fiz, o mal e o bem que lhes faço, saber que sabem que gosto tanto deles apesar do Oceano e de nunca mais os ter acordado para irem para o colégio. Podia continuar. Estou certa que o despudor é isto. Mas de nada me vale. Obrigo-me a parar. O despudor é isto: Viver todos os dias assim tão longe.

quarta-feira, 10 de abril de 2013

E não me voltes a dizer que não acreditas no Menino Jesus


Como te amo, o que eu amo, até quando amarei, como te quero, ainda, quando já seria altura de não te querer tanto assim porque me habituo aos rituais cedo demais devido a inconstâncias, outros países que já vimos e banalidades que já vivemos com outras pessoas. Por exemplo à banalidade dos almoços fenomenais na Susana e aos jantares em Ipanema e às tuas vontades de descobrires o brilhantismo nos outros, quando esse brilhantismo está precisamente no mapa de estrelas sardentas que só tu viste no meu rabo.  E eu sei que já não quero descobrir mais nada.  Porque te tenho a ti e aos teus Iogurtes Gregos e ao Leite Ucal com Chocolate que nunca ninguém tinha tido o amor de comprar para mim sem precisar perguntar se eu queria.

O amor - este amor - é tanto e tão mal tratado que não acreditas e eu também não te sei explicar, não quero explicar, estou a dormir, não me acordes. Talvez ele seja novo, porque não é uma coisa racional que eu te possa dizer, estou a dar-te o meu melhor e o meu pior para te mimar, segurar, convencer, apaziguar. Porque eu não sei o que é um amor que dure assim, porque nunca tive, porque sou uma perneta amorosa e faço como sei e como presencias diariamente, não sei nada. Não ligo telefones, não faço favores, não deixo de beber, de querer ser eu sozinha como se tu não existisses. E isso é realmente risível, obtuso, egoísta, mau, de propósito, para ti. 

Construo um mundo ao teu lado porque quero. Quero tanto que me atrapalho toda em outros amores e outras conversas e pessoas de onde ainda estou a sair. Talvez por isso, me apanhes toda defeituosa, toda em faltas, toda em culpa, em manias, em certezas, vaidosíssima do meu passado e das minhas pessoas. Que quero que aches sensacionais e isso só tem um nome: Maldade. 

Preciso de alguém que me explique porque nos vieste perguntar se éramos da Tap. Estúpida. Linda. Cheia de castanholas e força e acaso com que brincaste tão elegantemente. Dona da Praia, dona do meu Iphone onde não consegui teclar sequer o teu nome.

Por isso há um Menino Jesus que nos cuida às duas. E me deu tu, e te deu eu: a murros sairemos nós. 
Acredito em ti não por necessidade mas porque senão seria toda baralhada. Mais baralhada, mais triste, mais egoísta, com menos pessoas, mentindo às pessoas. Sem ti.
Tens que acreditar que a cor da tua pele me faz coisas químicas e os teus ombros e braços também fazem coisas físicas e que aquela tua vontade de rir quando fumamos um piriri e voltas a ter quinze anos e és a menina gira e loura do colégio das freiras irlandesas - que não sabe o  mal que faz às freiras  irlandesas só por existir - és o centro do teu mundo. Então repara é aí, Monica Tiple, que  todos os teus amigos e eu nos calamos para te ver e ouvir. 

sábado, 2 de fevereiro de 2013

AnalfaGay

Uma pessoa perspicaz chamou-me Analfagay num bar de camionistas muito feias, antes frequentado pela Madonna em NYC. Eu adoro NYC e a Madonna e nunca tinha ido antes a um bar gay na minha segunda ou primeira cidade do mundo; não sei. Menos ainda ao bar em questão que era em downtown, tudo por causa de ti e que foi uma experiência chata, porque me senti mal, para não dizer fodida porque não entendi nada da linguagem, nem para que servia a jaula gira que lá estava.
Uma outra pessoa, quando eu trabalhava num jornal em Lisboa, há muitos anos atrás e a quem eu pedia para me corrigir os textos, ou não, não, não; estando eu a escrever sobre o Woody Allen chamou-me a atenção sobre como, em português, se escrevia Nova Iorque, porque era sem o Y em York e eu tinha escrito Nova York com o Y em vez do I.
Irritou-me aquilo porque achei uma embirrância - era uma mulher e estava puta da vida porque eu escrevia melhor que ela - mas nunca esqueci. Afinal era a minha primeira ou segunda cidade da vida o que só fez piorar ou melhorar a cena. Não sei como aguentei a correcção porque a odiava. Era insegura e ela entrava no Frágil e eu não, talvez.
Como não consigo esquecer e escrever e são 6.25 da manhã que um senhor de laço e camisa engomada, lia os meus textos, em pé atrás de mim, enquanto eu os escrevia e portanto ainda os está a ler enquanto eu escrevo agora, (na minha cabeça) me ensinou que os advérbios de tempo ou modo, sei lá -  adorei sempre todas as minhas profs de português - não levavam acento.
Ele não disse, Mónica olhe que... Ele disse, Ó miúda ninguém te ensinou que, temporariamente, não leva acento? Então temos que ir tomar um café ali ao lado porque o caralho e não sei quê mais e assim. És mais uma das que não sabe puta merda e vais acabar a escrever para a Impala. Eu já estava a escrever para a Impala, mas nunca tinha privado com este senhor e este senhor usava as camisas mais bem engomadas que eu alguma vez vira, apesar de ser comunista convicto.
Uma gay é uma coisa, um comunista é outra coisa e uma ressabiada outra. E as experiências traumaticamente - leva acento? - boas, uma pessoa não esquece. Os três aparecem-me, às vezes, em pesadelos. Daqueles em que achamos que afinal nunca acabámos o curso. Ou depois acordamos e acabámos, mesmo analfagays e analfabetas e ressabiadas. Mas se tomarmos as pirulas certas acontecem sonhos bons porque acordamos sendo tudo errado, no momento em que queríamos ser tudo certo e para mais virgulando mal,  até nos sonhos. Coisa que nunca ninguém notou me aparecer o meu editor que não queria nada, nem sabia nada mas que agora anda preocupado porque não produzo nada e que ando a ler coisas como: "Tips on identifiyng symbols in your dreams" e Delusions of Gender, how society and neurosexism create difference".
Tenho-o a ele e tenho-te a ti and that´s why i don´t do midtown e um rabinho virado para a lua.

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

TV Rural

A Fossa é um lugar amarelo onde se pode estar às vezes na vida. Quando se está na fossa o mundo não serve para nada. Isto é, os pintaínhos deixam de ser queridos, o queijo de Serpa não passa de um queijo Gouda qualquer, as árvores fazem-nos mal e os discos da Maria Bethânia do princípio dos anos 80 voltam ao gira discos - comprei um gira discos para poder ir bem fundo na minha fossa e pendurei o "Pedaços, da Simone, na parede do escritório.
A Fossa é um lugar redondo de onde não se sai sozinho, mas também não se quer estar acompanhado. Na fossa nunca se sabe bem o que se quer, fora da fossa também não, mas dói menos.
Quando se está na Fossa não há nada pior do que ouvir, mas vá, sai lá da cama, vamos almoçar às Azenhas, ou anda comprar um Iphone 5 que eu ofereço. Quando se está na fossa quer-se dormir, ter sonhos absurdos, ficar dias seguidos sem tomar banho e tomar pírulas como se não houvesse amanhã. Porque não há amanhã, nem depois, nem depois, nem depois de depois.
Ontem, estando eu na fossa e com a televisão ligada só para distrair, ouvi aquilo dos deputados do PSD e do CDS estarem a querer a volta do TV Rural à televisão e depois isso fez-me rir. Um bocadinho, porque quando comecei a achar que iria rir muito lembrei-me logo da minha fossa e de que o mundo não faz sentido e de que aquele verme de deputado ali no ecrã da TV devia era ser sodomizado à bruta. Quando se está na fossa, além do mundo ser amarelo, as pessoas ficam más, más, más para quem as faz rir. Nem que seja um bocadinho só.