Há uma felicidade estranha na facilidade com que as pessoas aqui dizem que se amam. Como se para amar aqui, fossem precisos muito menos pontos do que aí, ou como se o calor facilitasse o amor evaporando-o por todo o lado. Dentro das caipirinhas, dentro de um chope, quando os malucos pulam da Pedra da Gávea, pelas ruas, na Lagoa.
Se normalmente preciso chegar a onze, em dez, com uma pessoa para conseguir comunicar de alguma maneira sempre complicada e mal feita um amo-te, o amor aqui é muito mais fácil. Toda a gente se ama logo no café da manhã. O que para mim é tão esquisito como nunca mais ter visto um cigano em Benfica, porque acordo sempre mal humorada. E até na sintaxe eles estão melhor, é muito mais fácil dizer eu te amo, do que dizer: Eu amo-te. Eu já disse amo-te. E fica sempre tudo preso e sinto-me sempre um boi. E já disse; Eu te amo e senti-me uma deusa de novela, mas isso só com os meus filhos, porque o sotaque só eles o entendem e merecem. Mas o amor fácil não é para mim e o amor é a única coisa que quero passar aos meus filhos, mesmo esquisito, como o trago de Lisboa, que é ele que nos salva, que é ele que nos faz alguma coisa de jeito. Miúdos: O amor não é para se dizer de manhã de dentes lavados. O amor é sujo e limpo, nocturno, choroso e sempre que possível um bocadinho bêbado.
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