sábado, 17 de novembro de 2012
Isto aqui não é sempre um Oba Oba
Os rins do Oscar Niemyer estão a falhar. É muito possível que ele não dure muitos mais dias. Estou ansiosa porque ele morra depressa. Como ansiei que a minha Tia Rosário morresse rápido, nos últimos dias dela de luta contra aquela merda de doença. É muito chato esperar uma pessoas morrer quando já sabemos que vai morrer. Quando já nos levaram a pessoa para aquele quartinho isolado, para poder morrer longe dos que também vão morrer. Sentam-nos ao lado da nossa pessoas e ficamos a olhar para aquilo que já não é e ainda nos é uma pessoa querida. Eu só queria que ela deixasse de respirar, ali estendida. Porque não conseguia sequer pensar em nada. Tentei usar o tempo para me lembrar de momentos bons, de risos, da última vez que ela tinha estado comigo no Rio, mas não me lembrava de nada porque lhe queria ouvir a respiração e ter a certeza do último suspiro dela. Umas vezes parava e eu pensava, foi agora, mas depois recomeçava tudo de novo e ainda não tinha morrido, porque é difícil morrer. Não morre tudo ao mesmo tempo dentro de nós. As coisas - os orgãos - vão morrendo uns de cada vez e até que se apague tudo, tudo estamos ali a despedirmo-nos da pessoa a correr. Como naqueles dias em que temos um comboio para apanhar.
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