sábado, 10 de novembro de 2012

Eu te Amo

Há uma felicidade estranha na facilidade com que as pessoas aqui dizem que se amam. Como se para amar aqui, fossem precisos muito menos pontos do que aí, ou como se o calor facilitasse o amor evaporando-o por todo o lado. Dentro das caipirinhas, dentro de um chope, quando os malucos pulam da Pedra da Gávea, pelas ruas, na Lagoa.
Se normalmente preciso chegar a onze, em dez, com uma pessoa para conseguir comunicar de alguma maneira sempre complicada e mal feita um amo-te,  o amor aqui é muito mais fácil. Toda a gente se ama logo no café da manhã. O que para mim é tão esquisito como nunca mais ter visto um cigano em Benfica,  porque acordo sempre mal humorada. E até na sintaxe eles estão melhor,  é muito mais fácil dizer eu te amo, do que dizer: Eu amo-te. Eu já disse amo-te. E fica sempre tudo preso e sinto-me sempre um boi. E já disse; Eu te amo e senti-me uma deusa de novela, mas isso só  com os meus filhos, porque o sotaque só eles o entendem e merecem. Mas o amor fácil não é para mim e o amor é a única coisa que quero passar aos meus filhos, mesmo esquisito, como o trago de Lisboa,  que é ele que nos salva, que é ele que nos faz alguma coisa de jeito. Miúdos: O amor não é para se dizer de manhã de dentes lavados. O amor é sujo e limpo, nocturno, choroso e sempre que possível um bocadinho bêbado.

Nenhum comentário:

Postar um comentário