sexta-feira, 9 de novembro de 2012

O dia em que morreu a Desfolhada

Estive duas horas preocupada sem saber do estado de saúde do meu pai e a pensar  se afinal eu tinha gostado dela ou não. É que o meu pai sempre teve uma coisa enorme pela Simone e eu nunca consegui perceber - até ontem - se gostava ou não, da senhora. Portanto, para mim foi bom  que a Simone tivesse morrido por duas horas aqui no Rio. Pensei no meu pai e revi-o a vê-la cantar a Desfolhada mais ou menos deliciado (tinha que fingir por causa dos ciúmes da minha mãe) numa TV a preto e branco, em nossa casa em Benfica. E também soube que afinal gosto a sério dela. Morta, gostei logo dela. Muito.  Até me arrepiei como quando for o Woody Allen  a morrer. Mulheres daquelas já não se fazem e nunca mais se farão. Uma maravilha egótica, irmã da Odete Santos e da Natália Correia. A Simone de Oliveira irrita porque sabe que é boa. E diz que é boa. Só ela aparecer não precisa abrir a boca, ponham-na ao lado da Maria Cavaco Silva.
A Simone de Oliveira canta muito bem e sabe que canta muito bem e se for preciso diz isso. Uma coisa rara num país de brandos e sonsos.
Se a Simone de Oliveira chegasse ao pé de mim para falar comigo, algum dia, concerteza diria, "a menina cresça e apareça" ou " a menina tenha juízo" e nesse dia eu estaria vestida com a melhor roupa de "ir ver a Deus",  porque mesmo sendo ela muito irritativa, ela é boa, ela é a maior. Ela estava numa aula de voz quando estava morta aqui no parvalhão do Facebook. Ela foi casada com o magnífico Varela Silva: "O Varela",  diz ela naquela voz para o povo ouvir. Não há ninguém em Portugal que me faça sentir mais povo que a Simone de Oliveira. Merda, que irritação.

Nenhum comentário:

Postar um comentário