sexta-feira, 16 de novembro de 2012

Povo, Cais do Sodré

Eu gosto muito do José Saramago. Gostei muito de ler alguns livros dele. Gostei do "O ano da morte de  Ricardo Reis", do "Ensaio sobre a Cegueira" e do "Evangelho segundo Jesus Cristo".
Como muitas pessoas tentei ler o "Memorial do Convento" e não tive paciência. Mas acho que gostar muito de três livros de um escritor - é que não foi assim-assim, foi gostar muito - dá para dizer que se gosta mesmo e para perdoá-lo por não ter gostado dos outros todos.
Quando tinha dezesseis, dezessete anos a altura em que li e gostei destes três, também li e gostei muito de dois livros do António Lobo Antunes: "A memória de Elefante" e a "Explicação aos Pássaros". Eu queria muito mais, nessa altura, gostar do Lobo Antunes. Gostar do António Lobo Antunes sempre foi muito mais cool entre os da minha geração do que gostar do Saramago. Talvez porque os miúdos tenham uma atracção especial por pessoas niilistas, como a mim me parecia ser o escritor e não por chatos, como a mim me parecia ser o outro escritor, o afilhado da minha Tia Adelina, o comunista - não consigo entender comunistas, tentei muito por volta dos treze anos porque o meu melhor amigo e a minha melhor amiga, pessoas mais lindas do mundo, eram comunistas e eu amava-os com uma violência desmedida a ponto de ir à Ajuda e ficar emocionada.
Como é desconcertante e maravilhoso estarmos quatro amigos a fazer o Jogo das Músicas da Vida, o ano passado e o meu puto comunista, aos quarenta, continuar tão fiel ao Fernão Mendes Pinto como àquela sua piscina infinity na Zambujeira do Mar, ou ao José Mário Branco que ele queria tanto voltar a ver no Coliseu connosco. Tauma absoluto dos 2 burgueses e da aristocrata presentes no apartamento 40 m2 do quadrilátero de Ouro em Ipanema.
Ouvir a voz contestária e inteligente do José Mario Branco nos dias de hoje é brutal, dói não é net, nem youtube. Ter um amigo que nos pára e nos faz desafiar o tempo, o medo, o pudor, a vergonha da simplicidade e do que é erudito e bom e esquisito e tão nostálgico tudo, é fantástico. Faz-nos ter vontade de o abraçar e querer que a vida dele seja boa. E cheia de campo, e animais e terra e Alentejo com as tais das piscinas lindas que ele só fica feliz quando nos dá. E é.
Nunca mais li nada do Lobo Antunes, mas adoro tudo o que diz por fora dos livros. Ao invés, copio muitas vezes a forma de escrever do Saramago sem ninguém nunca ter criticado. Só porque não sei pontuar.

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